Conectado com

Cães

Após suspenção da vacina, leishmaniose contra-ataca

Publicado

em

Foto: Lensgo

Em maio de 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) suspendeu a fabricação e venda, além de determinar o recolhimento de lotes da vacina contra a Leishmaniose no Brasil. Segundo a pasta, “foi constatado desvio de conformidade do produto, que pode ocasionar falta de eficácia da vacina, gerando risco à saúde animal e saúde humana”.

Quase um ano depois, a percepção entre parte dos médicos veterinários é que o número de animais infectados tem aumentado. Causadas por protozoários do gênero Leishmania e da família Trypanosomatidae, as leishmanioses são um conjunto de doenças que, de modo geral, se dividem em leishmaniose tegumentar americana, que ataca a pele e as mucosas, e leishmaniose visceral, que ataca órgãos internos.

Médico veterinário Paulo Abilio Varella Lisboa

Em entrevista exclusiva à revista O Presente Pet, médico-veterinário da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mestre e doutor em Ciências Veterinárias, pesquisador do Laboratório de Esquistossomose Zoonoses da Escola Nacional de Saúde Pública e coordenador do Projeto Vigilância e Georeferenciamento em Leishmaniose e Esporotricose, Paulo Abilio Varella Lisboa, ressalta que não há dados que reflitam a realidade da doença atualmente no Brasil, mas que entre profissionais do setor há um entendimento de que a enfermidade tem sido mais frequente. “Casos humanos estão relativamente controlados, porém não há informações centralizadas ou condensadas sobre a quantidade de cães infectados com leishmaniose no Brasil. É possível que exista uma subnotificação e que o número de casos possa ser maior que o estimado. Temos a percepção na nossa rotina de atendimento e dos colegas que trabalham em áreas endêmicas um aumento de animais infectados” assinala o profissional.

Doença complexa

O pesquisador da Fiocruz explica que a Leishmaniose é uma doença de grande complexidade, de curso muito variável e crônico. “A maioria dos sinais são inespecíficos. De forma geral, alterações da pele como descamação, queda de pelo, feridas com bordos grosseiros e, principalmente, na região da cabeça e das patas podem ser suspeitas. Muitos animais apresentam sinais de perda de peso, apatia, prostração e emagrecimento, que chamam a atenção do tutor”, relata.

Além dos sinais externos exemplificados por Paulo Abilio, ele revela ainda que é comum a presença de alterações como anemia, imunossupressão, alterações renais e hepáticas. “Mas vale lembrar que alguns animais podem não apresentar sinais tão evidentes, sendo classificados como assintomáticos”, alerta.

Transmissão

A transmissão para pessoas ou outros animais ocorre de forma indireta. “Não existe a transmissão direta de cães positivos infectados para pessoas”. Ele explica que a doença não passa pela pele ou pelo contato com secreções. “A transmissão para pessoas e para outros animais é feita de forma vetorial através de um flebotomíneo, um tipo de mosquito, popularmente chamado de mosquito-palha, birigui, tatuquira, cangalinha, asa branca, asa dura ou palhinha, de acordo com a região”, detalha.

Prevenção com coleiras ou pipetas

Atualmente, a prevenção é realizada através de coleiras ou pipetas especificas impregnadas com substâncias repelentes e inseticidas. “Com a retirada da vacina do mercado, os aspectos relacionados a prevenção de casos passa a ser crítico, pois atualmente só temos opções preventivas com o uso de substâncias repelentes na forma de coleira, ou de pipetas para aplicação na pele. Cada produto tem sua característica de tempo de utilização e proteção”, sinaliza Lisboa.

Novas vacinas

Questionado sobre a possibilidade de uma nova vacina ser inserida no mercado brasileiro, o pesquisador da Fiocruz revela que “há esperança de que um novo produto possa estar disponível em algum momento. Atualmente temos duas vacinas no mundo, elas não estão autorizadas para uso no Brasil. Existe um esforço da indústria e nas pesquisas para o desenvolvimento de uma nova vacina, mas ainda não temos um cenário tão promissor imediato” elucida.

Apesar de grave, a doença atualmente possui tratamento para os cães. “O principal fármaco é a Miltefosina, considerado a droga de eleição e única apontada como leishmanicida, além de autorizada pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Agricultura. Existem outras drogas que podem ser utilizadas como coadjuvantes do tratamento, que estão publicadas em artigos ou orientações de grupos de especialistas. É importante entender que a orientação de um veterinário quanto a indicação e o uso de outros fármacos é essencial”, aponta o profissional.

 

Confira aqui a edição completa da Revista O Presente Pet!

Fonte: O Presente Pet

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.